“ – Dizer o que teria acontecido? Não, a ninguém jamais se diz isso.(…)
Mas todos podem descubrir o que vai acontecer – (…)
Se voltar agora e acordar os outros(…)”
C.S. Lewis
Crônicas de Nárnia – Príncipe Caspian
Há um ano, meus textos no blog eram uma mistura de dor, tristeza, pesares, traumas e insistentes projeções para o que viria pós tragédia. Hoje, uma só constatação: Nenhuma autoridade governamental permitiu que rompêssemos com a tragédia do dia 11/01/2011 e suas inapagáveis marcas.
As obras tão insistentemente ditas, cobradas, protestadas, não servem tão somente para a dignificação do povo, mas para romper definitivamente com um passado angustiante e assombrador. As águas em Nova Friburgo, terminantemente, não são águas passadas. Elas estão estagnadas e putrefatas, sob o nome de política ingenuamente deficiente ou especializada em adquirir vantagens ante o trágico sempre vivido pela sociedade comum. Portanto, ao se falar, ver e ouvir, as pessoas diretamente afetadas – e que continuam sofrendo nas suas múltiplas necessidades – constata-se um semblante triste, cansado, desiludido, sem esperança, tal como milhares e milhares de semblantes que vimos, “ontem”, quando o calendário marcava 11/01/2011. Na verdade, a expressão, “parece que foi ontem”, nunca coube tanto, como na realidade que vivemos em Nova Friburgo. Aliás, vergonhoso lembrar o cansado trocadilho marketeiro usado por tantos ao se cunhar que a cidade voltaria a ser nova. Como? – eu pergunto. Quando uma cidade pode ser totalmente renovada, enquanto o sórdido, poluente e babilônico modelo político continuar sendo permitido por nós? O trabalho feito pelo órgão de limpeza e urbanização da cidade a cada chuva que cai na conhecida Praça do Suspiro é cópia fiel da administração pública vigente. A lama suja toda a rua, então, munidos de pipas d’água e mangueiras lavam toda a sujeira. Que voltará a ser limpa na próxima e chuva e assim por diante. Enquanto não formos sérios em nossos votos – chega de urna eletrônica, não tenho pressa em saber quem governará; destemidos em nossos protestos – sem violência, Luther King Forever; e leais ao senso comum – o que desejo necessita repercutir em ganho para todos, continuaremos lavando a lama que escorre dos palácios.
Eu queria homenagear pessoas que partiram, como o “Carne Seca”, guardador de carros, vítima, antes mesmo do dia de “ontem”, vítima de uma sociedade exclusivista e não causadora de sonhos realizados para todos. Eu queria homenagear aos heróis que lançaram uma corda, que acordaram uma família, que se lançaram nas águas, que reviraram lama, que fizeram… e nem deixaram seus nomes. Mas não.
Vou homenagear os políticos que receberam as verbas destinadas às vitimas da catástrofe natural e tão logo foram acusados de desvios das mesmas; vou homenagear aqueles que se colocaram numa platéia restrita, a que torce por um município afundado ainda mais na lama, para que sejam os “redentores” nas próximas eleições; vou homenagear os que gentilmente construíram e nos deixaram de herança essa fingida, insensível e Jesabelínica política; homenagear os irmãos de outros escalões, que diante da desdita desceram como abutres por meio de aeronaves para repartirem – será que apenas as tarefas? Quero homenagear ainda os diversos empresários que agraciados pelos empréstimos – mesmo com suas empresas mais secas que telhado no deserto nordestino, impediram outros que chafurdados na lama sucumbiram, a todos e outros que são omitidos em minha singela homenagem, a quem peço perdão por tamanha injustiça de minha desmemoriada atenção, deixo-vos um texto: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos.”